Nem sempre

...alcanço os meus objectivos.

Sempre tive um fascínio pelo mundo da saúde, e era essa a minha vocação. Primeiro queria ser enfermeira. Depois pensei melhor, e achei que médico ganhava mais dinheiro ;-P..... E mais tarde, achei que médico seria fantástico, mas cereja sobre o bolo seria tratar de crianças, e então decidi que seria pediatra :-)

Decidi isso tudo muito cedo, portanto nunca fui daqueles adolescentes que não sabiam muito bem que caminho escolher na escola. No décimo ano fui logo para a fileira cientifica, e já tinha estado a investigar quais as universidades para onde podia ir.

Quando cheguei ao décimo segundo, foi só completar as inscrições. Para medicina, éra necessário escolher 3 universidades por ordem de preferência, e fui aceite na minha primeira escolha :-)
Aí descobri o que era estudar.... Até aí, tinha passado pela escolaridade sem grandes dificuldades, estudando q.b., e tirando sempre boas notas. Ao contrário de muitos, a grande liberdade da universidade, fez com que eu descobrisse ser mais organizada, e tivesse mais rigor nos estudos. E até tirei boas notas....

O sistema em França de entrada para estudos de medicina é diferente. Nem consigo dizer se é mais justo, se mais injusto, mas é diferente. Qualquer pessoa que tenha completado o décimo segundo, normalmente consegue entrada na universidade, para o primeiro ano de medicina. No ano em que eu entrei, éramos 600. A selecção só se opera no final do ano, com um concurso. No ano em que eu entrei, só aceitavam os 100 primeiros.

No final do primeiro ano, fiquei nos 300 primeiros, muito longe de passar para o segundo ano, e seguintes. Existe outra regra, que diz que só se pode tentar o concurso duas vezes.
No segundo ano, empenhei-me mais, cheguei a mudar-me para Paris mesmo para passar menos tempo nos transportes, e ter mais tempo para estudar. Nos exames do primeiro semestre, fiquei nos 80 primeiros :-D... Estava a funcionar!

No dia em que fui ver os resultados de fim de ano, procurei o meu nome nas primeiras folhas... nas folhas dos que tinham passado... procurei... procurei... procurei... até que desisti, e comecei a procurar nas outras folhas... acabei por encontrar o meu nome ali pertinho... no lugar 132 :-(

Pior do que estar sem objectivos, é ter um objectivo há tantos anos, não pôr sequer a possibilidade de esse não se vir a concretizar, e descobrir um dia que mais perto não vamos chegar.... 132 sobre 600... mais valia ter ficado em 200 para a frente ! Doía menos.
Doeu durante uns tempos. Agora já não dói, e percebi que tinha que passar por aí para chegar ao sítio onde estou hoje.

Ainda no outro dia, dizia a minha sogra : "ai que bom que tinha sido se tivesse conseguido ser médica! agora tínhamos uma médica na família!". E eu respondi: "Se eu assim fosse, provavelmente não tinha vindo parar a esta família.... Tem a certeza que teria sido melhor?" ;-)