Monday, March 9, 2009

Parto

Durante a noite, as contracções começaram a ser mais intensas e mais ritmadas.
Basicamente, passamos a noite acordados.
O JJ deitou-se por volta das 5, e eu continuei acoradada, com contracções já perto dos cinco minutos de intervalo. De vez em quando alguma esquecia-se do compromisso, mas basicamente já sabia que o trabalho de parto tinha iniciado.
Por volta das 6h30, o JJ acordou e eu disse-lhe que ía tomar douche, e depois comíamos o pequeno almoço e podíamos ir andando.
E ele apenas ficou preocupado com o horário... Íamos sair de casa numa segunda feira de manhã, em plena hora de ponta... Não dava para eu aguentar mais duas horas??? ;-D
Eu respondi que também não tinhamos pressa de chegar, e que estando perto do hospital eu ficava mais descansada, pois podia ser internada a qualquer momento.
Antes de tomarmos pequeno almoço, ainda monitorizamos o coração da princesa com o angelsounds, e ficamos mais descansados ao ver que o ritmo cardíaco dela estava normalíssimo :)

Saímos de casa por volta das 7h45, e chegamos ao hospital por volta das 8h30. Fomos nas calmas, e afinal nem apanhamos muito trânsito. Apenas me custou um bocado andar de carro com contracções quando ele precisava de acelerar, ou quando passavamos em estradas com buracos.... (algo que até nem é muito comum no nosso país, né?).

Quando chegamos ao hospital, ainda demos umas voltinhas por lá. Aproveitamos para ir ao piso das consultas de pediatria, para perguntar se havia vagas para a pediatra que queríamos para a princesa. E elas responderam que seria necessário fazer um pedido por escrito depois da criança nascer... E o JJ: em princípio deve nascer hoje, que as contracções já estão com pouco tempo de intervalo.... Elas passaram-se! E desejaram-nos felicidades, e uma hora pequena :-D
Depois disso ainda demos uma volta ao hospital, e depois demos entrada nas urgências.
Depois da triagem, deram-me uma pulseira da moda, côr de laranja.... Muito urgente.... ups!

Fui examinada pela médica de banco, que confirmou que tinha entrado em trabalho de parto, e que estava com 3-4 cms de dilatação. No entanto, a cabeça do bebé ainda estava muito alta... Internou-me logo, e mandou o marido ir tratar das papeladas. Eu perguntei qual seriam as consequências da cabeça ainda estar muito alta... Ao que ela me respondeu que ainda era possível que ela viesse a descer, mas caso não acontecesse teria que ser cesariana...
Ficaram de contactar a minha médica para a avisar que estava no hospital.

Eu fui conduzida ao quarto onde ía fazer o trabalho de parto, e explicaram-me como funcionavam as coisas. Pediram-me para fazer dois microlax, e depois despir-me e vestir a blusa sexy :-D
Depois colocaram-me o soro, e o CTG.
Eu coloquei logo a cama de modo a estar o mais sentada possível, pois assim conseguia gerir melhor as contracções, e a gravidade também estava a ajudar a princesa a encaixar.
Pela primeira vez, o CTG começou a registar contracções, regulares, com intensidade de 30 a 40%. Eu estava a gerir bem, até deu para vermos televisão :-D

Por volta das 11 horas, as enfermeiras vieram ter comigo e disseram-me que tinham conseguido entrar em contacto com a minha médica (coitada, saía duma noite de banco...), e que ela tinha dado indicações para colocarem gel para intensificar as contracções, e acelerarem o trabalho de parto. Não era algo que eu queria, mas também não tinha muitas alternativas...
Depois de me colocarem o gel (AI!!!) tive que me deitar, pois sentada o gel saíria, e não teria efeito nenhum. As contracções aumentaram logo muito de intensidade, e como eu estava deitada, parece que ainda eram piores. E para ajudar à festa, naquela posição, o CTG deixou de registar as contracções, portanto durante algum tempo, ninguém veio ter conosco, pois a informação que elas tinham éra de zero contracções....
A única maneira que eu tive de gerir as contracções foi apertando a mão do JJ... coitado... não sei como não lhe parti a mão toda!
A dor era tanta que comecei a descontrolar-me. E o tempo foi passando...
O JJ ía chateando as enfermeiras, dizendo que já estava com contracções muito chegadas, de 2 em 2 minutos, e que o CTG não registava, e elas nada... é normal!..... ????
Por volta das 15h00, chegou a minha médica: Então agora quer me ver todos os dias? ;-)
Ela examinou-me para ver como estavam a decorrer as coisas, mas não estavam a correr.... A dilatação continuava nos 4 cms (mas não acredito que fossem os mesmos 4 cms de quando entrei... aquilo de medir a dilatação não é uma ciência exacta), e a cabeça da princesa continuava muito alta...
Aí uma das enfermeiras comenta: se calhar não vale a pena ela sofrer e fazer a dilatação toda para depois....
E a médica vira-se para mim, e diz-me: Eu sei que queria muito um parto natural, mas acho melhor fazermos cesariana.
Sempre que repenso nesse comentário dela, a reacção ainda continua a ser a mesma. Desfaço-me em lágrimas... Cesariana significa epidural, que eu queria ter evitado, significa ser separada do JJ durante o nascimento da nossa princesa, quem me vai dar apoio? E quem lhe vai dar apoio a ele? sozinho cá fora à espera sem saber o que está a acontecer? Significa ser separada dela mal ela nascer... Significa um parto completamente diferente daquele que tinha idealizado. Completamente diferente do parto que sabia poder ter se as coisas não corressem bem.
A partir daí foi tudo muito rápido, e perdi noção da realidade. Entrei em estado de choque.
Saíram todos do quarto para ir preparar tudo, e eu fiquei sozinha com o JJ, a chorar, e a pedir-lhe desculpas. Depois voltaram a entrar no quarto, e preparam-me para me levar para o bloco de partos.
O JJ ainda pode acompanhar-me no corredor, e depois fiquei "sozinha".

Em primeiro foi a epidural. O anestesista teve alguma dificuldade em aplicar, pois eu não conseguia dobrar-me o suficiente, além de que estava a tremer muito do nervosismo, e as contracções continuavam a acontecer de dois em dois minutos cada vez mais fortes.
Depois de vinte minutos ou mais, lá conseguiu colocar a epidural, e aí senti um calor invadir-me a parte de baixo do corpo, assim como um formigueiro.
Continuava a sentir a tocarem na barriga, mas sem dor nenhuma.
Aí as coisas aceleraram, e muito rapidamente tiraram a princesa da minha barriga... Ela chorou quase de imediato :) Foi tão bom ouvi-la!
Vieram-ma mostrar ao pé da minha cara, mas nem sequer lhe pude tocar. Tinha as mãos atadas :(
Levaram-na para lhe dar os primeiros tratamentos, e a vestirem, e eu fiquei ali, sozinha, enquanto estavam a cozer-me....
Lembro-me de ver cabeças por cima da cortina que escondia o campo operatório, que falavam comigo de vez em quando ...
- Já nasceu!
- Está tudo bem com ela...
- Nasceu às 15h53 pelo meu relógio, que deve estar certo.
- Está tudo bem com ela. Nasceu com 3, 185 Kgs.
- Parabéns!

Duranto todo o processo, o anestesista tentou distrair-me, mas sem successo, pois eu continuava em estado de choque...
Perguntou-me como íamos chamar a bebé, ao que eu respondi que ainda tinha que falar disso com o pai....
O quê? não pode ser! mas já tem uma lista, não?
Sim...
Então e vão escolher entre Margarida e... ? Sim Margarida é o nome que eu escolhi. Estão a pensar entre esse e qual outro?
E eu: Felizberta....
Ele? Não? Não pode ser! Há alguma Felizberta na família?
Eu: Não
Ele: Então não pode ser! Tenho que falar com o pai.... Tenho que o convencer a escolher outro nome!

Um bocado depois, já tinha nascido a princesa, e tinham-na levado, chega ele e diz:
- Afinal era mentira! Eu já falei com o pai e é uma SOFIA!!!
E eu pensei.... Fonix! ele chibou-se!!! lol

Entretanto ainda me mostraram a Sofia já vestida, e pude lhe dar beijinhos antes de a levarem outra vez....

Quando acabaram o ponto cruz, levaram-me para o recobro. Quando passamos pelo berçário, colocaram a minha princesa ao pé de mim na cama, e pouco depois encontramos o papá babado no corredor. Olhou para mim, e só me disse: - É linda! nem se apercebeu que ela já estava comigo, tal era o estado em que ele estava...

Foi assim que nasceu a nossa princesa Sofia, dia 09-03-09, às 15h53 com 3,185 Kgs...
Foi o dia em que a nossa vida mudou para sempre :)

Não foi o parto que eu queria.
Ainda tenho dificuldade em lidar com a maneira como as coisas correram...
Mas basta olhar para ela para saber que passava por tudo outra vez se fosse necessário.

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